Monteiro Nascimento
Sou a primeira mulher na minha família com ensino superior. Quebrei o ciclo, desconstitui o óbvio, venci as barreiras. Meus pais sempre colocaram como prioridade minha educação, fizeram o impossível para que eu chegasse aqui. Sou filha de uma doméstica e de um recepcionista, meus pais não tiveram o privilégio de estudar e por isso colocaram a educação como prioridade na vida dos filhos.
Em um país onde a desigualdade e o racismo estão fundidos como costume social, é difícil encontrar negros que se destaquem nas diversas áreas da sociedade. É preciso que tenhamos consciência da discrepante diferença de oportunidades, precisamos compreender que o racismo é uma arma de destruição humana e social.
A desigualdade de oportunidades começa na área mais importante da vida, na educação, somos muitas vezes duramente excluídos da fase escolar, um problema que vai além do esforço ou dedicação. Desde criança conhecemos a dura realidade que nos cerca. Infelizmente em nosso país não temos ensino público de qualidade, falta infraestrutura, investimento e o mais importante, prioridade. Sabe-se que maior parte da população pobre é composta por negros, os maiores prejudicados pela falta de investimento na educação pública. Esse problema desencadeia uma série de diferenças sociais, prejudicando o crescimento profissional e impedindo que todos tenham as mesmas oportunidades.
Como é ser uma mulher negra advogada? Primeiramente é gratificante saber que mesmo diante de todas as dificuldades impostas consegui conquistar meu objetivo. Reconheço meu privilégio, pois a maioria não possui condições de investir na educação, mesmo que minimamente. Como operadora do direito desejo contribuir com meu conhecimento para, ao menos, tentar construir uma sociedade mais igualitária e menos destrutiva. É desafiador e ao mesmo tempo empolgante. Tenho orgulho de onde vim, de quem sou e do que posso me tornar.
Sabemos que o caminho para construir uma sociedade mais justa e igualitária é a educação, o conhecimento nos abre os olhos, nos conduz para um caminho de esperança, e o mais importante, nos dignifica como seres humanos. Desejo que todos tenham as mesmas oportunidades, que sejamos tratados como iguais de verdade, sem preconceitos, pois enquanto a cor definir nossos destinos não avançaremos como humanidade.
Que neste dia 20 de novembro possamos descobrir quem realmente somos, o que podemos fazer e conquistar. E que tenhamos orgulho da nossa pele, tenhamos orgulho dos nossos antepassados que lutaram bravamente para que hoje pudéssemos conquistar tudo o que desejamos. Dedico minha conquista a todas as mulheres negras que não se cansam de batalhar para construir um mundo mais igualitário.
Nathália Maria é advogada do Monteiro Nascimento Advogados na unidade de Maceió